A última vez.



Era uma noite escura e tempestuosa.
Eu estava sentada na minha cama a olhar a janela. Tudo na minha cabeça estava tal e qual o tempo lá fora. No meu quarto não se ouvia um único barulho a não ser, o ruido dos trovões e o tom suave e preocupante da minha respiração forte.
De repente a minha mãe entra no quarto e, interrompe, sem pensar, o meu momento de preocupação.
‘ - Está na altura de deixares de te preocupar com coisas desse tipo. Daqui a dois anos, tudo já passou. Ele nunca mais se vai lembrar de ti, essa preocupação e tristeza toda não vão fazer diferença. Não vale a pena ficares magoada com uma coisa que, tu sabes que não há volta a dar.’
Ao ouvir a minha mãe dizer estas palavras, senti uma lágrima a cair pela minha cara. Ela tinha razão mas, a realidade, naquele momento, assustou-me. Eu continuava sem aceitar tudo aquilo que se tinha passado.
As perguntas permaneciam na minha cabeça mas, as duvidas do sentimento eram poucas. E agora? Com quem é que eu ia contar quando tivesse um desgosto? A quem é que eu ia ligar quando estivesse preocupada com qualquer tipo de coisa, mesmo que não tivesse a mínima importância?
Ele era uma das únicas pessoas que me compreendiam, uma das poucas com quem eu sabia que podia contar, uma daquelas que, sem as quais a minha vida não teria a mesma magia.
Mas ele, foi-se embora. A partir daquele dia a minha vida nunca mais foi a mesma. Eu já tinha aprendido a viver com a sua presença, aquele olhar já fazia parte da minha vida monótona. Ele já fazia parte de mim.
Desde o inicio que sabia que corria este risco mas, eu não queria entender aquilo que se estava a passar.
A minha mãe saiu do quarto.
Levantei-me calmamente lavada em lágrimas, sem conseguir pronunciar uma única palavra e, fui em direcção à janela. Observei a lua.
Um relâmpago caiu mesmo à minha frente, e no momento a seguir , os meus olhos pareciam ver o seu nome escrito na lua.
Olhei para a mesa onde costumava falar com ele, olhei para o meu telemóvel e comecei a ver as suas mensagens a dizer que me amava. Lembrei-me dos poemas que ele me fazia e, das palavras que ele sempre dizia quando eu não estava bem.  Lembrei-me da nossa primeira conversa e de tudo o resto.
Estava tudo a ser complicado, aceitar toda aquela reviravolta foi uma coisa por demais.
Ele era tão importante e, dum momento para o outro, desapareceu. Se ao menos tivesse, simplesmente, mudado de casa ou de escola mas não. Ele mudou de pais, ele mudou de mundo.
Sonhava um dia encontra-lo na rua. Sonhava ir contra alguém e, essa pessoa ser ele.
Esperava que, um dia, ele voltasse a abraçar-me com todas as forças que tinha, como fazia dantes.
Será que ainda se lembrava de mim? Não sei mas, eu nunca me ia esquecer dele.
Limpei as lágrimas como uma ultima tentativa de fazer o que ele sempre disse. Pediu-me para não chorar por ele, disse-me que eu era forte e que, isto não era o fim de nada. Disse também que voltaria para ver todos aqueles que amava e, prometeu que seria feliz. Disse que não gostava de me ver chorar mas, naquele momento era impossível não ficar mal. Eu estava arrasada … por dento e por fora.
Dirigi-me à cozinha, agarrei na tablete de chocolate e comi-a. Aquele sempre tinha sido o melhor remédio para as minhas lágrimas mas, naquele dia, parecia que nada preenchia o vazio do meu coração, a solidão da minha alma.
Ligaram-me mas, eu não atendi. Provavelmente era mais uma pessoa a tentar fazer com que esboçasse um sorriso mas, naquele momento só a voz dele iria fazer com que toda a minha felicidade saísse cá para fora e, se libertasse como antes.
Mais tarde, recebi uma mensagem. Pediram-me para ir ao computador. Nesse momento, mandaram-me uma fotografia, minha e dele. Nessa fotografia os olhos dele brilhavam e, nós estávamos de mãos dadas. Fiquei bastante tempo a olhar para lá e, reparei como nós estávamos felizes. Vi no seu rosto a alegria de estar comigo naquele momento e, as lágrimas vieram aos meus olhos cada vez mais depressa.
A única coisa que consegui fazer foi, mandar-lhe a fotografia e escrever:
‘ Não sei se algum dia tu vais ver isto ou, não. Não sei se todos estes momentos se vão repetir ou se alguma vez mais vamos estar juntos mas, queria pedir-te desculpas. Queria dizer-te que não sou tão forte como achavas. Neste momento, ao olhar para esta fotografia, as lágrimas não param de cair pela minha cara, não param de ser deitados cá para fora os meus medos e, principalmente a minha saudade que agora aperta cá dentro. Só me resta dizer-te um até sempre e, escrever e gritar aquilo que tu sempre soubeste. Amo-te. ‘
Fechei o computador. Cheirei a camisola que ele me tinha oferecido e, para a nossa fotografia já impressa e colada na parede do meu quarto.
Olhei a janela, a tempestade estava cada vez mais longe mas, o nome dele, para mim, continuava escrito na lua.
Deitei a minha cabeça na almofada, desliguei a luz e fechei os olhos. Finalmente as lágrimas tinham parado mas, a minha cabeça continuava cheia de tristeza mas, adormeci, talvez com uma tentativa de que, no dia seguinte acordasse e, estivesse um dia lindo, com o sol a brilhar e que, ele estivesse deitado ao meu lado. 

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