Tudo começou à cerca
de 12 anos. Eu vi uma bebé, uma criança que, mesmo não conseguindo abrir
os olhos por completo, o seu olhar já me chamava. Não, eu não me lembro do
primeiro dia que vi esse bebé, esse ser tão pequeno e delicado à qual eu ainda não
conseguia chamar nada. Eu era pequena também, devia ter um ano e pouco mas,
falar eu já falava. Simplesmente não conseguia pronunciar a palavra, o nome, a
maneira como hoje eu trato essa bebé.
Hoje, sinto-me na
obrigação de a proteger. Sinto que a bebé que hoje, passado 12 anos é quase da
minha altura é minha.
Essa bebé, hoje já é
crescida, já sabe escolher os seus amigos, já sabe fazer as escolhas que ela
acha que são as mais apropriadas. Eu posso guia-la pelo meu instinto mas, eu
não posso escolher por ela. Não posso dizer-lhe que aquilo está mal só porque tenho
um pressentimento, não posso impedi-la de fazer o que ela quer, não posso
dizer-lhe que está mal sem dar uma única razão para o achar. Na verdade, eu não
tenho razão. Eu, tenho simplesmente uma sensação, uma aperto no meu coração, o felling de que , algumas opções não são as
melhores para ela. Mas, se ela não errar, se ela não chorar, se ela não sofrer…
ela também não vai crescer.
Não vou dizer que não
fico triste quando essa bebé hoje prefere estar com outras pessoas. Não vou
dizer que não fico desapontada quando ela diz que não a um convite meu mas, eu
não sou a vida dela. Eu sou mais uma pessoa que faz parte do seu caminho, uma
pessoa que, até agora não a largou e, se depender de mim, também não a vou
largar.
Eu tenho saudades de
quando ela passava semanas em minha casa, tenho saudades de estar sozinha com
ela. Tenho saudades da minha bebé. Daquela que me dava estaladas quando
precisava, daquela que me abria os olhos quando eles estavam fechados, daquela
que eu nunca vou querer perder. Tenho saudades da bebé com a qual eu vivi e, a
qual eu amei.
Eu continuo a ama-la
mas, hoje percebi que ela não é tão minha como eu achava. Hoje percebi que,
aquilo que ela foi, ela já não vai ser mais. Dantes ela não rejeitava, ela
vinha quando eu precisava e, hoje ela pensa e, faz outras escolhas. Não a posso
obrigar, posso tentar e fazer de tudo para que ela seja minha novamente mas,
isso não depende apenas de mim. Isso, também depende dela.
Tenho saudades de ver
a minha segunda cama levantada, com ela lá deitada. Tenho saudades de a ver
acordar despenteada, tirar fotografias e gozar com ela. Tenho saudades de
quando ela vinha jantar comigo e chamava gordo ao meu pai. Eu, eu tenho
saudades de todas as parvoíces e de todos os disparates que nós fizemos, de
todas as fotos que nós tiramos, de todos os filmes que nós vimos, de todas as
musicas que nos cantamos e dançamos. Eu tenho saudades de todos os concertos
que fomos, de todas as idas aos centros comerciais, de todos os jogos, de todas
as asneiras que cometemos. Eu tenho saudades dela. Tenho saudades da minha
princesa.
Todos os dias penso
nela. Todos os dias arranjo maneiras de estar com ela, se lhe dar abraços mas,
todos os dias parece que são em vão. Parece que nada da resultado e que, sempre
que eu preciso, ela não pode.
Não digo que ela não
se preocupe, não digo que ela não queira mas, também não vou esconder que às
vezes preferia que ela dissesse a verdade, dissesse que não lhe apetecia sair
de casa nem despir o pijama, preferia que ela me ligasse e pedisse desculpa mas,
que fosse sincera.
Ela sempre foi o meu
braço direito, sempre foi a pessoa a quem eu sempre contei tudo, sempre foi
aquela em quem eu confiei quando não havia mais ninguém, foi sempre a primeira
a saber as novidades, a saber dos meus sentimentos, das minhas inseguranças,
das minhas decisões. Ela sempre foi a primeira a estar a par de tudo mas, isso
mudou. Parece que, nestes últimos tempos existe uma barreira entre nos. Parece
que eu não consigo estar sozinha com para lhe confessar tudo aquilo que se anda
a passar na minha vida. Parece que ela está ausente mas, presente ao mesmo
tempo.
Queria ir ter com ela
e fazer-lhe uma surpresa mas, a minha mãe não deixa.
Gostava que essa bebé
soubesse tudo o que eu tenho feito para conseguir estar com ela, as vezes que
eu me tenho zangado com a minha mãe para estar com ela, gostava que ela
sentisse metade daquilo que eu estou a sentir neste momento por sempre
que quero estar com ela, não puder.
Mas, essa bebé não tem
culpa. Não tem culpa que eu seja parva nem em culpa que eu seja uma mariquinhas
que chora por tudo e por nada. Essa bebé, simplesmente é ela e … se não pode
não pode. Eu não posso fazer nada em relação a isso. Só ela é que pode ter a
força de vontade que eu tenho. E se não tiver ? Não sei. Provavelmente eu
vou chorar. Voou chorar cada vez mais e, um dia não vou aguentar. Vou dizer-lhe
que estou farta que a mãe dela não lhe deixe vir ter comigo porque fez um
disparate, vou dizer-lhe que preciso dela e que ela não esta aqui.
Provavelmente, neste
momento devo estar a ler-lhe este texto e, provavelmente ela vai estar a pensar
que sou egoísta e que so estou a pensar em mim mas, se eu não pensar em mim,
quem é que vai pensar ? Quem é que me vai fazer feliz se eu não lutar por isso.
Não estou a pedir a
esse bebé que mude a sua vida por minha causa, não estou a pedir que me faça
feliz, estou simplesmente a pedir que não desapareça, que continue a ser aquela
menina delicada que eu conheci, aquela pessoa que sempre precisou de mim quando
estava mal, aquela pessoa que vem a correr para os meus braços cada vez que me
vê e me diz: ‘ amanha, posso ir a tua casa ? ‘ . se isso acontecer, eu não vou
perguntar a minha mãe, eu não quero saber se ela deixa ou não. Eu, eu vou
dizer-lhe imediatamente que sim, vou busca-la a casa e abrir-lhe a porta da
minha casa, daquela casa onde ela sempre esteve e sempre foi feliz, aquela casa
onde ela sempre me ajudou e sempre me apoiou. Aquela casa onde nos tivemos as
nossas birras infantis que acabavam sempre num abraço e num beijinho amável e
carinhoso.
Quero pedir-lhe
desculpa por neste momento estar a pensar em mim mas, eu preciso dela. Preciso
que ela me abraçasse e me diga que esta tudo bem e que, me limpe as lágrimas
porque, sinceramente, qualquer dia, desapareço, a Marta que eu sempre fui,
desaparece.
Eu amo a minha princesa como ninguém. Eu vou continuar
a protege-la como sempre, vou continuar a amá-la como sempre amei, vou
continuar a quere-la como sempre quis. Eu nunca vou abandonar a minha bebé,
aquela pessoa que desde o inicio esteve aqui, para todos os meus problemas mas,
eu so quero estar com ela. Só nós. Sem mais ninguém.